domingo, 9 de outubro de 2011

Idoso ou incapacitado

Recebemos e vemos inúmeros filmes mostrando pessoas idosas, a maioria absoluta desses filmes tratando a terceira idade, a melhor idade como apreciam dizer, de forma caridosa, querendo despertar sentimentos de amor e respeito.
Ótimo, precisamos desse carinho e respeito, afinal trabalhamos e lutamos para criar e manter famílias que se sucederam a partir do primeiro filho ou filha. Nessa fase inicial gradativamente assumimos responsabilidades em relação aos nossos pais, até que descansaram de vidas mais difíceis que as nossas (tempos sem vacinas, antibióticos, televisão, shoppings, luzes etc.).
Os tempos mudaram, as famílias encolheram, tornaram-se distantes e as cidades viraram autênticos pesadelos para os idosos. São feitas para atletas e o prazer de turistas. Os equipamentos e sistemas modernos exigem habilidades que não dominamos. A educação que nãos soubemos transmitir aos nossos filhos faz muita falta... Viver em grandes cidades é um desafio constante.
Quem soube escolher bem onde viver, a terceira idade é um período gratificante. Mais ainda, se aprenderam em tempo a usar alguns aparelhos modernos ajuda muito. Se transmitiram aos seus descendentes o sentimento de amor recíproco, a capacidade de respeitar e trabalhar, de agir de forma pró ativa, de serem cidadãos completos terão um paraíso em família.
Independentemente de qualquer cenário, entretanto, podemos ter uma sobrevida gratificante. Devemos lembrar que podemos muito a menos que doenças graves e debilitantes impeçam atuações eficazes. Obviamente será difícil a qualquer idoso vencer campeonatos esportivos mais duros ou estar plenamente na comunidade em que existe, repetindo, incrivelmente hostil a quem vive muito (quem mandou não ficar em casa?).
Ganhamos potencial graças à tecnologia. O mundo das ciências evolui de forma extraordinária, só falta isso chegar ao entendimento de nossas autoridades, lideranças e ao cidadão comum. Esse maravilhoso mundo novo pode, se trocar a fabricação de armamentos sofisticados e inutilidades pela criação e produção de soluções para pessoas com alguma, média ou muita deficiência, fazer do existir algo gratificante e produtivo até o último minuto de vida.
Temos muito a dar, precisamos de quem nos ouça, de gente que empreenda e de lideranças sensíveis. É de desesperar ver como desperdiçam tempo e sentir que somos a última prioridade. Que falta de inteligência! Transformar o idoso em tadinho e, se puder, em turista privilegiado, é acreditar que a inutilidade é fator de felicidade.
Sim, realmente é difícil aceitar certos valores “modernos”. Por erros nossos criamos uma sociedade frívola, irresponsável e dispersiva. Isso é ruim e estamos pagando um preço elevadíssimo. Nada, contudo, que não possa ser revertido.
Temos por desculpa o fato de que a presença numerosa de idosos e de idosas em sociedade é fato recente. A expectativa de vida aumentou muito, criando uma nova realidade. A Humanidade não estava preparada para isso. Lugar de pessoas mais velhas era em casa ou nos bares e praças, quando não em asilos e hospitais; agora não, já sentimos a presença de pessoas da terceira idade espalhadas pelas cidades, dos lugares mais ricos aos mais pobres.
Manter a saúde e algum vigor por mais tempo permite-nos repensar aposentadorias e tarefas, responsabilidades e prazeres. Os sistemas de telecomunicações, os computadores, equipamentos de aquisição de som e imagem, blogs, livros multimídia etc. facilitam militância social e política. Trabalhos que antigamente exigiam reuniões e viagens longas agora podem ser feitos virtualmente. A experiência que adquirimos nesse período de transformações tecnológicas é importante e deve ser lembrada quando se criam novas soluções, as leis da Natureza não mudaram com os chips.
Existe um espaço de trabalho inexplorado em torno de pessoas experientes que atingiram a terceira idade, o que falta é saber usá-las de forma adequada, sem os pressupostos antigos de chão de fábrica, escritórios sob vigilância etc. Se nossos gerentes modernos pensarem em resultados e todos realmente quiserem aproveitar a cultura acumulada pelos idosos, pode-se valorizá-los viabilizando oportunidades de presença profissional, social e política.
Precisamos rever filmes, programas e discursos em torno dos idosos. Não somos inúteis.

Cascaes
23.8.2011

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